Toc… toc… toc… aquele som, atrás de mim, e o semáforo fechado para pedestres,
obrigou-me a parar e voltar á cabeça para onde eu supunha vinha aquele som.
Não me enganei. Uma senhora com idade entre 75-80 anos, caminhava devagar, apoiando a bengala na calçada. Cabelos branquíssimos, óculos iguais aos da Vovó Benta, na capa do livro de receitas, vestido floral, sapatos de salto baixo e ofereceu-me um olhar cativante, mas desconfiado, quando dispus-me a ajuda-la a atravessar a rua, estendendo minha mão direita enquanto oferecia-lhe meu braço esquerdo.
Ela gentilmente aceitou minha ajuda (na realidade aceitou mais por cortesia e elegância que por necessidade mesmo) e fomos atravessar a rua.
Perguntei-lhe se iria longe de onde estávamos.
Respondeu-me que estava indo a uma lotérica receber a aposentadoria, pagar umas contas e depois iria a uma loja de presentes para crianças.
Mesmo depois de atravessarmos a rua, continuei de braço dado com ela e fomos entabulando a prosa.
Disse chamar-se Rosinha e que, morava perto dali. Todos os meses, entre os dias 5 e 10, ia na mesma lotérica receber a aposentadoria, mas que hoje era um dia especial.
Contou-me que hoje fazia dois anos que seu marido falecera. O seu amado Arthur, depois de ter trabalhado por mais de 50 anos, resolveu se aposentar.
Fez toda a papelada e ficava em casa cuidando do jardim. Indo ao mercado e à pracinha do teatro para jogar xadrez com seus amigos.
Havia feito diversas viagens e conheciam quase todo o Brasil e grande parte do mundo.
Tinham vivido a plenitude da vida. Com honestidade, uma grande dose de paciência recíproca e amor. Muito amor entre os dois.
Arthur havia trabalhado, profissionalmente, somente em dois lugares na vida.
A fábrica de compensados no inicio de carreira e depois, em sua própria fábrica de móveis.
A “Móveis Bela Vista” tinha adquirido nome e reputação por toda a região. Não era uma grandiosa fábrica mas, os haviam sustentado por toda a vida e ajudado a criar os cinco filhos.
Esta fábrica havia sido vendida havia já dez anos e, desde então, estava progredindo cada vez mais. Dona Rosinha, frequentemente, via os caminhões da empresa chegando e saindo da cidade. Trazendo matéria prima e levando móveis prontos.
Arthur havia pedido ao comprador que NÃO mudasse o nome da fabrica e que colocasse, sempre em primeiro lugar, os “BENEFÍCIOS HONESTOS” que a empresa proporcionava. Assim prometido, vendeu a empresa por 80% do valor que poderia ter conseguido de outro comprador que, para o Arthur, não havia inspirado confiança.
A promessa do comprador de atender este desejo, de manter os BENEFICIOS HONESTOS foi primordial para que se concretizasse a venda. E pelo visto, o comprador havia mantido a promessa rigorosamente.
Mas era um dia especial também por que era aniversário de seu netinho. O lindo e peralta Zinho. Na realidade Arthur era, também, o nome do neto, mas, todos o chamavam de Zinho. De ArthurZinho.
Arthur, o avô, falava sempre em brincar e correr com seu neto mas, quis Ele que assim não fosse.
Não haveriam de plantar flores juntos. De irem à pracinha “tomar sorvete escondido” antes do almoço. De leva-lo à escola e, ao busca-lo, virem a pé, brincando pelo caminho. Chutando latas vazias, brincando na chuva, cumprimentando toda a vizinhança.
Tudo isto não aconteceria mais. Seu querido Arthur não estava mais ali para brincar e sorrir com o neto.
Dona Rosinha falava que este sentimento de saudades do esposo amado junto com a alegria de ver o neto crescer a fazia, cada vez mais, saber que havia valido a pena.
Teve dor e saudade ao mesmo tempo. Assim ela crescia espiritualmente.
Neste ponto, chegamos à lotérica e ela parou para me agradecer a companhia e a ajuda (que NÃO era necessária) para chegar até ali. Disse-me que descansaria um pouco dentro da lotérica e que depois iria à loja de brinquedos.
Dei-lhe um respeitoso beijo na testa e agradeci-lhe pela companhia e pela conversa.
Saí da conversa com Dona Rosinha, de modo tranquilo. Fui até o estacionamento pegar o carro para ir para a MINHA empresa. Não falei para a Dona Rosinha o que EU fazia. Nem em que trabalhava. A “Móveis Bela Vista” me esperava.
Depois que eu a havia comprado do Sr. Arthur, de forma quase paternalista, a empresa havia crescido mais ainda, mas, nunca havia esquecido os princípios básicos de gestão que a haviam norteado: BENEFÍCIOS HONESTOS era a palavra de ordem. Nunca havia esquecido o pedido sincero de um homem justo, trabalhador, competente, honesto e compartilhador.
Benefícios aos funcionários, através de uma remuneração digna de cada responsabilidade assumida;
Benefícios à comunidade, através de preços condizentes com o produto escolhido, sem perder qualidade e ao mesmo tempo o respeito à natureza, com o uso de madeira de reflorestamento;
Benefícios ao Estado, através do recolhimento legal de todos os encargos devidos;
Benefícios aos sócios através da remuneração justa do capital investido.
Levo, desde então, como lema pétreo da “Móveis Bela Vista”, a prioridade de sempre ter em mente todos os “BENEFÍCIOS HONESTOS” da herança do “Seu” Arthur.
E você leitor?
Na empresa em que você trabalha também fazem dos “BENEFICIOS HONESTOS” uma missão?
E nas empresas que você mantém relacionamento? Como elas agem a este respeito?